Um beijo, um queijo... Deixe ir.

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Confesso que ainda me restava um pouco de sentimento e não sei por que, mas algo lá no fundo me fazia acreditar que um dia você iria voltar a falar comigo. Me agarrei a pequenas esperanças iludidas por um sentimento intacto. Se passaram 2 anos e tudo isso foi se desfazendo pouco a pouco. Depois de tanto tempo, eu finalmente vou soltar essas lembranças e deixar partir o que restou. Me abri para o novo, um lugar desconhecido da qual ainda tenho medo... Porém sei que me fará bem algum dia. Esse novo amor apareceu de repente, fiquei meio desconfiada, ele seria o abraço que eu tanto precisei e esperava? O abraço me consolou naquele dia frio e escuro e eu retribuí, por que senti algo diferente. Não sei o que será daqui para frente, não tenho expectativas e nem ansiedade, mas iremos com calma... Sei que já estamos nos tornando grandes amigos e isso é importante.  Se você gostou, eu não sei, mas segundo minha mãe, se não tivesse gostado, não teria me beijado tantas vezes.

Dentro de mim - T01 E03 - A notícia

A sirene da ambulância soava distante e por alguns segundos, ficava nítida aos ouvidos, como se o carro estivesse vindo e indo em uma estrada retilínea. O famoso efeito doppler. Caio tinha os olhos semi abertos, ao seu redor tudo estava nublado, como se alguém tivesse fumado e prendido a fumaça dentro da cabine. Os enfermeiros ao seu redor verificavam o seu pulso. Ele não sentia absolutamente nada, estava totalmente inerte na maca. A máscara de oxigênio ajudava a respirar melhor. Ouvia alguém sussurrar palavras que ele não compreendia muito bem, mas reconhecia a voz, parecia Miguel.
O silêncio e a escuridão foram substituídas pelo ranger do ar condicionado e a claridade da janela que tinha as cortinas bem abertas, embora a janela estivesse fechada. Caio abria os olhos lentamente e ao seu lado, aos prantos, estava sua mãe.


__Meu filho, tu acordastes! - A mãe apertava a mão do filho com alegria e em seus olhos inchados haviam muitos lágrimas que ainda estavam por vir.
__Mãe... - Sussurrou baixinho, seu corpo ainda doía - Ana... Cadê a Ana... - Caio tentava se sentar em vão.
__Não tente se sentar, meu querido, tu ainda estais machucado. A Ana está estável - Ela engoliu seco.
__O que aconteceu?
__São muitas perguntas, Caio, descanse mais um pouco, tudo bem?

Clementina se afastou do filho e foi para fora do quarto, onde estavam Miguel e José, pai de Caio. Ela fez um gesto para Miguel.

__Não conte para ele o que aconteceu - Ela sussurrou no ouvido do rapaz.
__Tia, uma hora ele vai ter que saber.
__Mas não agora, vamos esperar ele se recuperar - Miguel assentiu e entrou no quarto, reunindo todas as suas forças para encarar o amigo, que com certeza estava cheio de perguntas para fazer.

Ele entrou no quarto devagar e viu o amigo observar a janela, quando os olhos dele se encontraram com os do amigo.

__Fala, Caião! Tu és osso duro - Miguel apertada a mão do amigo, enquanto se sentava na cadeira ao lado.
__Fico feliz em te ver. O que aconteceu comigo? - Caio mantinha os olhos bem abertos e o ranger do ar condicionado tomou conta mais uma vez do quarto. Miguel procurava as palavras, quando sentou na cadeira e começou a falar.
__Tu e a Ana foram atropelados. Na verdade a Ana te empurrou e ela que foi atingida. Mas nesse "empurrão" tu acabastes batendo a cabeça no carrinho do outro lado da rua e havia uma barra pontiaguda que furou tua costela. Por isso tu estais enfaixado.
__E a Ana?
__Ela está em outro quarto - Miguel desviou o olhar, mas Caio não percebeu a mentira do amigo e sorriu aliviado. Aquilo estava o corroendo por dentro, mas sabia que iria ser um choque para ele,saber o que houve de fato com a namorada. Miguel havia saído do quarto e então Clementina e José entraram para ficarem mais um pouco com o filho, a hora da visita estava terminando.
Alguns dias se passaram e Caio já podia se sentar normalmente, a ferida estava cicatrizando rápido. Ele mal podia esperar para sair e por andar e encontrar com Ana. Durante todo o tempo, as pessoas mentiam para ele, diziam que ela ainda não podia receber visitas pois ela ainda estava inconsciente ou diziam que ela em breve poderia sair da UTI. Mas Caio finalmente recebeu a visita de alguém que não estava envolvida na farsa. Rita entrou no quarto e deu um sorriso largo para o amigo.

__Caio! - Ela deu um abraço nele e sentiu uma vontade imensa de chorar, mas se segurou para não assustar o amigo.
__Nossa, achei que tu tinha se esquecido de mim - Ele riu enquanto se sentava na beirada da cama.
__Vejo que estais melhor, em breve poderá sair daqui!
__Já se passou 1 mês, acho que semana que vem eu estou de alta.
__E como tu estais? - Ela sentou na cama ao lado do amigo.
__To me sentindo bem, é ruim ficar no hospital, mas to bem.
__É assim mesmo, amigo, a vida tem que seguir - Rita gaguejou e baixou a cabeça. Seus olhos começaram a avermelhar.
__O que aconteceu, Rita? - Caio passou a mãos nos ombros da moça, sério.
__Mesmo tendo passado esses dias, ainda é difícil sabe? Queria estar bem como você - De repente, Caio olhou para o chão, como se tivesse ligando os pontos de um quebra cabeça, ele não era idiota ao ponto de não perceber o que estava acontecendo.
__Você tem visitado a Ana? - Rita o olhou assustada e levantou da cama rapidamente. Percebeu a grande besteira que tinha feito. Mas não havia nada que pudesse ser feito, uma hora ele iria descobrir a verdade.
__Caio... Ninguém... Ninguém te contou? 
__Acho que fui enganado - Caio sentiu os olhos ficarem vermelhos. Não queria ouvir aquelas palavras saírem da boca da amiga. Apenas queria voltar no tempo, queria poder impedir aquilo tudo. Dormir e nunca mais acordar.
__Isso é um sonho, né? Rita, por favor, não me diz isso, cara. Por favor! - Caio levantou da cama, queria saber isso da boca dos pais.
__Caio, pera aí - Rita saiu atrás dele, desesperada. José estava sentado na frente do quarto, enquanto a mãe estava na lanchonete. Quando viu o filho sair disparo pela porta. Todos levantaram assustados.
__O que vocês estavam querendo me escondendo a verdade? - Ele arrancou a agulha do soro, o braço escorrendo sangue e a ferida que não estava totalmente sarada, começaram uma dor latejante.
__Caio, por favor, tu estais muito alterado, volta para a cama que a gente conversa - José tentava acalmar o filho e buscava o celular no bolso para ligar para a esposa.
__Me acalmar? Vocês tem ideia do que fizeram me escondendo que a Ana morreu todo esse tempo? Eu não quero me acalmar, eu não vou me acalmar. Isso só pode ser um pesadelo - Os enfermeiros ao redor correram para frente do quarto para tentar contê-lo, mas Caio desabou no chão sem forças, chorando e se encolhendo. Alguns pacientes correram para o corredor para tentar entender a confusão e presenciaram tamanho sofrimento. 
Alguns enfermeiros com total empatia e delicadeza, levantaram o rapaz para levá-lo para a cama. "Tudo ficará bem" eles sussurravam. Clementina vinha correndo pelos corredores ociosa, sabia que aquilo iria acontecer e pensava várias vezes se realmente não teria sido melhor ter contado desde o início.
Caio estava sentado na cama de braços cruzados, apático. Enquanto Rita estava encostada na janela, José sentado na poltrona próximo a cama e Clementina sentada na beirada da cama. O silêncio prevalecia, até o ranger do ar condicionado foi engolido por tamanha tristeza.

__Me desculpa, filho, eu queria que tu se recuperasse - Caio não emitia nenhum som. Seu rosto estava sem expressão alguma. A única coisa que se mexia, eram as lágrimas que caíam silenciosamente - Sei que foi um choque para ti, mas entenda sua mãe.
__Apenas me deixem sozinho - Ele sussurrou enquanto deitava na cama.
__Infelizmente não havia nada que pudesse ser feito... - A mãe levantou, lançou um olhar preocupado para o marido e fez sinal para todos saírem. Caio, deixou que as lágrimas caíssem e ensopassem o travesseiro. Ele tinha que se livrar daquela dor insuportável. Os planos e todas as coisas que ele tinha conversado com Ana, agora não passavam de lembranças bonitas. Foi o pior dia de sua vida. Aquela notícia iria assolar sua existência até o dia de sua morte.
Alguns meses haviam se passado, Caio havia recebido alta hospitalar e também havia trancado a faculdade. Ele ainda estava depressivo devido a perda da noiva, mas tinha reunido coragem o suficiente para ir ao cemitério visitá-la. Ele não compareceu ao velório e o enterro de Ana, foi até melhor, ele pensava. Não iria aguentar tamanha tristeza.
O cemitério nunca foi um lugar agradável, muito menos quando alguém estava com o coração partido. Caio caminhava pelo estreito caminho de brita do lugar, ao seu redor tudo parecia mórbido e silencioso. O barulho das árvores o fazia sentir medo, só que continuava até encontrar o túmulo. Andou durante 10 minutos e encontrou uma grande lápide cheia de flores. Sim, ele estava no lugar certo. O peso do ar o fez respirar fundo várias vezes e as lágrimas brotaram incontrolavelmente. Deixou a voz rouca sair, as lamentações não poderiam ser guardadas para si mesmo. Ele estava sozinho, não tinha do que se envergonhar.


__Ana... Por que? - Ele sussurrava enquanto observava a foto da moça. Ficou um tempo debruçado sobre o túmulo. Quando se sentiu mais calmo, levantou com os olhos bem inchados e colocou junto das flores, um carta com o poema favorito dela. Se virou cabisbaixo e seguiu em frente.


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